Hubert Benoit: aspiração espiritual

O fiel desta ou daquela religião dirá que “Deus” é a autoridade que lhe impõe o dever de sua salvação. Mas quem é esse “Deus” que, ao me impor algo, é distinto de mim e tem necessidade da minha ação? Acaso não está tudo incluído em sua perfeita harmonia?  O mesmo erro pode ser encontrado em alguns homens cujo desenvolvimento intelectual seria suficiente para não lhes permitir crer num “Deus” pessoal. Embora pareçam não mais fazê-lo, se os observamos com mais atenção, vemos que eles acreditam nesse tipo de “Deus”. Imaginam o seu satori, e eles mesmos depois do satori, e eis aí o seu “Deus” pessoal, ídolo restritivo, inquietante implacável. É preciso que eles se realizem, se libertem, se atemorizem diante do pensamento de não consegui-lo, se exaltem diante desse fenômeno interior que lhes dá esperança. Há aí a “ambição espiritual” — necessariamente acompanhada da ideia absurda do “Super-homem” que se deve vir a ser, com a reivindicação desse vir-a-ser — e angústia.

Hubert Benoit: A Doutrina Suprema

Foto: Jana Shnipelson

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