A visão errada é que os sankharas* somos nós, nós somos os sankharas, ou que a felicidade e a infelicidade somos nós mesmos, nós somos felicidade e infelicidade. Ver as coisas dessa forma não é ter conhecimento completo e claro da verdadeira natureza das coisas. A verdade é que não podemos forçar todas essas coisas a seguir os nossos desejos; elas seguem o caminho da natureza. (…) É o que acontece com os sankharas. Nós dizemos que eles os perturbam, como quando sentamos em meditação e ouvimos um som. Pensamos: “oh, aquele som está me perturbando”. Se entendemos que o som nos perturba, então sofreremos de acordo com essa percepção. Mas, se investigarmos um pouco mais profundamente, veremos que somos nós que perturbamos o som! O som é simplesmente som. Se entendemos isso então se torna simples e podemos deixá-lo em paz. Vemos que o som é uma coisa, nós somos outra. Alguém que acha que o som vem para perturbá-lo é alguém que não vê a si mesmo. Ele realmente não vê! Uma vez que você se veja, você estará calmo. O som é apenas som, por que você deveria agarrá-lo? Você percebe que na verdade foi você que perturbou o som.
*palavra originada do Pali que se refere aos fenômenos condicionados
Ajahn Chah, numa assembleia de monges e leigos em 1970
Foto: Claus H. Godbersen