Se você quer perceber E entender objetivamente, Apenas não se permita Ser confundido pelas pessoas. Desapegue-se de tudo o que você Encontrar dentro ou fora de si mesmo. Desapegue-se da religião, Tradição e sociedade, E só então você Alcançará a libertação. Quando você não está Enredado nas coisas, Você passa Livremente para a autonomia.
Este momento é um movimento criativo, um eterno tornar-se que nunca se torna nada em particular.
Conhecer a nós mesmos e a existência da maneira mais completa e verdadeira é simplesmente sentir esse acontecimento, acontecendo por conta própria. Nós somos esse acontecimento imediato. Isso é tudo que existe. Não é algo que pode ser compreendido e não é algo que esteja sendo “feito”. Nada nesse momento está sendo compreendido, e nada nesse momento está sendo feito por um “eu”.
Darryl Bailey em Finding Wholeness, Harmony and Rest
As diversas filosofias ou psicologias sempre apresentaram uma ideia do que é o ser humano, ou o ser humano saudável, e declararam que deveríamos fazer várias práticas ou terapias para se tornar aquele tipo de ser humano. Em vez de ser um ser humano normal, havia a crença de que tínhamos que nos tornar um humano especial ou ideal.
Basicamente, todos estavam dizendo o que todos deveriam ser.
Mesmo os mestres espirituais mais amorosos deram a impressão de que não era aceitável ser o que você era. Eles deram a impressão de que tinham algum conhecimento secreto do que você deveria ser, e eles o ajudariam a consegui-lo.
A mente, o ego, nosso eu verbal, ou como quer que se chame esse fluxo de pensamentos que julga e avalia, ao se deparar com o comportamento autônomo do organismo, se choca. Além do julgamento, vem a perplexidade ao perceber que o comportamento não está sob seu controle, não segue as suas diretrizes.
Sendo útil, mas limitada e pequena, vendo apenas uma fração do que pode ser visto, a mente não pode compreender que o todo, no qual o comportamento do seu organismo está inserido, funciona harmonicamente, exatamente como deve funcionar. Os seus julgamentos e tentativas de controle fazem parte desse movimento harmônico e não poderiam ser de outra forma. Mas o seu conteúdo é apenas um balbuciar sem sentido.
Há poucas coisas que você precisa saber para se tornar um pai sábio. Você precisa saber que vai morrer, pois assim poderá viver de verdade.
Você precisa saber quando tem o suficiente, pois assim poderá ter contentamento. Você precisa saber como rir, pois assim encontrará cura;
Há muitas coisas que você não precisa saber. Você não precisa saber tudo que seus filhos pensam ou fazem. Você não precisa saber das duas esperanças e sonhos secretos. Você não precisa saber como a vida vai se desenrolará para eles, ou para você.
Nossa verdadeira situação é indescritível, mesmo SENDO ela e nada mais. Essa indescritibilidade é um dos fatos que perpetuam sua obscuridade para as pessoas. Se fosse prontamente descritível, então aqueles que a entender poderiam apenas descrevê-la para quem não entende, removendo a sua confusão. Mas não é o caso.
{A razão pela qual ela é indescritível se deve à sua natureza. Nossa situação verdadeira é infinita, aberta, inerentemente subjetiva (em que não há condições objetivas fixas e estáveis que possam ser delineadas), indefinível em termos racionais e inalcançáveis como pontos de referência, condições ou objetos específicos, dos quais se poder derivar alguma orientação. Com esse fato em vista, como tentar comunicá-la usando palavras finitas para aqueles que estão confusos sobre sua verdadeira natureza? A descrição aparenta ser tão confusa como nossa incompreensão do que é visto, talvez até MAIS.}
E esse é o xis da questão; é exatamente PORQUE a natureza verdadeira da nossa situação é tão indefinível que somos motivados a fabricar modelos e descrições simplificados, compreensíveis, estáveis, finitos e racionais de nós mesmos e do mundo, para nos dar um senso (ainda que falso) de segurança no meio do aparente caos. Então, essas crenças fabricadas sobre a nossa situação se tornam exatamente aquilo que mais nos impede de enxergar o verdadeiro estado de coisas como ele é.
Como a consciência pode dar o salto não-salto da confusão para a visão esclarecida? por si mesma Felizmente, ela faz isso por si só, motivada pela sua natureza inerente. Na verdade, até que a nossa consciência motive internamente esse salto para ver, não há absolutamente NADA que “nós” possamos FAZER para que isso aconteça. Ponto. Então, NÃO HÁ CAMINHO.
Até mesmo a ação mais aparentemente consciente, voluntária, intencional, bem pensada, aparentemente livremente escolhida e iniciada pelo eu, quando começamos a olhar de perto para tudo que estava envolvido para fazê-la acontecer, acaba sendo o resultado de causas e condições infinitas, de uma folha caindo trinta anos atrás em New Jersey até o Big Bang. Quando prestamos uma cuidadosa atenção a cada ação conforme ela se desenvolve, não conseguimos encontrar um “eu” separado iniciando-a ou a levando a cabo em nenhum dos seus estágios. Ninguém “escolhe” ser um serial killer ou ter transtorno de personalidade narcisista. O Buda não teve escolha sobre ser o Buda, assim como Hitler não teve escolha sobre ser Hitler. O viciado em drogas que se recupera não tem escolha sobre se recuperar, assim como o que não se recupera não tem escolha sobre não se recuperar. Nada poderia ser diferente do que é nesse momento. É o acontecimento indivisível que inclui o Buda e Hitler, recuperar-se e não recuperar-se, tudo num evento inseparável, um oceano sem divisões.
Se analisarmos um problema, certamente perceberemos que ele é criado pelo pensamento. Pensar que algo é um problema cria o problema, e a base para quase todos os problemas é a relação entre “eu” e o “outro”; o problema é criado porque o “eu” pensa que o outro fez algo contra o interesse do “eu”. Em outras palavras, é um fato real da vida que quase qualquer problema é baseado no “eu” considerar o outro um rival em potencial, um inimigo em potencial. Esse é o núcleo dos problemas humanos.
A total apercepção desse fato torna claro que a única forma de lidar com problemas humanos não é achar uma solução para o problema, mas ver claramente que não há necessidade de ter nenhum problema. E a forma para que isso aconteça é aceitar o conceito claramente estabelecido pelo grande Buda: “Eventos acontecem, ações são realizadas, consequências acontecem; mas não há nenhum autor individual de nenhum feito”.
Ramesh Balsekar em A Personal Religion of Your Own