Stephen Batchelor: dogma

O verdadeiro valor de qualquer dogma ou crença está na sua capacidade de apontar para além de si mesmo, na direção de uma realidade mais profunda e que não pode ser facilmente articulada numa fórmula simples. Assim que o seu caráter simbólico de auto-transcendência é negado, e a crença é elevada ao status de verdade final e universal em si mesma, o seu significado espiritual genuíno é perdido, e ela é reduzida a um mero “dogma”, no completo senso pejorativo da palavra.

Stephen Batchelor em Alone With Others: An Existential Approach to Buddhism 

Foto: Timothy Eberly

Ajahn Candasiri: identificação com o eu

É difícil apreciar totalmente a não existência de um self inerente em nenhuma condição da mente e do corpo, pois temos um hábito muito forte de nos identificar com o corpo, a mente, nossas qualidades, forças, fraquezas, nosso caráter, nossa personalidade. Então, não nos sentimos prontos a deixar de lado toda essa identificação; afinal de contas, gastamos muita energia criando e mantendo nosso “eu”. Mas o Buda nos encoraja a desafiar esse senso de identidade; esse desafio se torna mais relevante e interessante quando realmente nos damos conta do sofrimento que nos causamos através dessa identificação habitual.

Ajahn Candasiri em Simple Kindness

Foto: Rishabh Dharmani

Ajahn Chah: a sabedoria do sofrimento

Dukkha, a instasitfação, é a primeira das quatro nobres verdades. A maior parte das pessoas quer se afastar dela. Não querer ter nenhum tipo de sofrimento, em absoluto. Na verdade, é este sofrimento que nos traz sabedoria; nos faz contemplar o dukkha. A satisfação (sukha) tende a nos fazer fechar os olhos e ouvidos. Ela não nos permite desenvolver a paciência. Conforto e felicidade nos tornam descuidados. Dessas duas máculas, dukkha é o mais fácil de se enxergar. Sendo assim, precisamos do sofrimento para colocar um fim ao sofrimento. Precisamos saber o que é o dukkha antes de sabermos como praticar a meditação.

Ajahn Chah

Foto: Lukasz Szmigiel

Ajahn Candasiri: características negativas

Nós somos levados a ser bem comportados e bons, e para isso aprendemos a reprimir ou ignorar nossas características negativas. Porém, quando começamos a meditar, relaxamos, e esse conteúdo começa a vir par a superfície da consciência. No budismo falando de purificar o coração – e fazemos isso permitindo que essas coisas que não são tão puras e agradáveis surjam. Então podemos deixar que elas se vão. Às vezes isso nos leva a ter muito mais energia, pois não estamos colocando tanto esforço em manter tudo sob controle.

Ajahn Candasiri em Simple Kindness

Foto: Jay Lamm

Peter D. Santina: purificação

Foi dito uma vez que se tivéssemos que cobrir toda a superfície da Terra com couro para impedir que cortássemos nossos pés com pedras e galhos, a tarefa seria muito trabalhosa. Porém, se cobrirmos apenas a superfície dos nossos pés com couro, é como se toda a Terra estivesse coberta com couro. Da mesma forma, se tivéssemos que purificar todo universo da ganância, raiva e ignorância, essa seria uma tarefa muito difícil. Mas simplesmente purificando nossa própria mente de ganância, raiva e ignorância, é como se todo o universo estivesse purificado dessas máculas.

Peter D. Santina em Fundamentals of Buddhism

Foto: Jake Hills

Ajahn Candasiri: abrir mão de estar certo

Estar em paz envolve abrir mão ou abandonar a posição de estar certo. É um sacrifício real do ego, do senso de eu; e por conta da forma como fomos condicionados, o senso de eu é muito importante para nós. Mesmo que esse senso seja apenas uma ilusão, fazemos todo o possível para nos segurarmos à ideia do eu até o momento em que nos damos conta de quantos problemas ela causa a nós e aos outros.

Ajahn Candasir

Foto: Masaaki Komori

Ajahn Candasiri: o preço de amar

Conforme meus pais iam envelhecendo, eu me percebia temendo o dia em que eles morreriam. Eu não sabia como as pessoas faziam para lidar com esse tipo de perda; então eu me preocupava com o momento futuro em que eles morreriam. Entretanto, dei-me conta de que talvez eu empregasse meu tempo de forma mais útil aproveitando a nossa relação enquanto eles ainda estavam vivos, em vez de pensar o tempo todo no momento da nossa inevitável separação. Assim, acabei passando um tempo proveitoso com eles. Fiz questão de falar para eles coisas que eu julgava importantes, pois eu sabia que haveria um dia em que eu não poderia falar as mesmas coisas da mesma maneira. É claro, no dia em que o momento da sua morte chegou, eu experimentei muita dor. Ainda fico triste às vezes quando penso neles, e às vezes gostaria que eles ainda estivessem aqui – mas eles estavam ficando cada vez mais velhos e era a hora certa para que eles partissem. Eu não me incomodei com a dor; não sofri com ela. Havia apenas dor, e percebi que a dor era a consequência inevitável de amar alguém. É quase como, ao amar alguém, houvesse uma etiqueta com o preço presa a isso. Mas foi um preço que eu paguei de bom grado. Não era muito.

Ajahn Candasiri, em Simple Kindness

Foto: Priscilla Du Preez

Bhikkhu Bodhi: meditação na respiração

A meditação não requer nenhuma sofisticação intelectual, apenas atenção à respiração. Apenas se respira naturalmente pelo nariz, focando a atenção na respiração nas narinas ou no lábio superior, onde a sensação da respiração pode ser sentida conforme o ar entra e sair. Não se deve tentar controlar a respiração ou forçá-la a acontecer em ritmos predeterminados, e sim apenas contemplar conscientemente o processo natural de inspirar e expirar. Ficar atento à respiração corta através da complexidade do pensamento discursivo, nos resgata do errar sem rumo no labirinto de imaginações vãs e nos situa solidamente no presente. Pois quando estamos conscientes da respiração, realmente atentos a ela, podemos estar conscientes dela apenas no presente, nunca no passado ou no futuro.

Bhikkhu Bodhi

Foto: C Dustin

Chogyam Trungpa: compaixão verdadeira

A compaixão verdadeira não se expressa como “eu gostaria de fazer essa pessoa feliz por fazê-la se encaixar na minha ideia de felicidade”; em vez disso, se trata de perceber que a pessoa precisa de ajuda. Você se coloca à disposição daquela pessoa. Você apenas entra numa relação com aquela pessoa sem se preocupar onde isso vai levar. Essa é uma abordagem mais difícil e generosa do que seguir a sua expectativa de que a pessoa deveria conseguir isso ou aquilo.

Chogyam Trungpa

Foto: Alexey Demidov

Ajahn Chah: ver os dois lados

Quando você experimenta a felicidade, você acha que só haverá felicidade. Sempre que você sofre, você acha que sempre sofrerá. Você não percebe que sempre que há o grande, há o pequeno; quando há o pequeno, há o grande. Você não vê dessa forma. Você vê apenas um lado e acha que ele durará para sempre. Há dois lados para tudo; você precisa ver os dois lados. Assim, quando a felicidade surgir, você não se perderá; quando o sofrimento surgir, você não se perderá. Quando a felicidade surgir, você não deve esquecer o sofrimento, porque você sabe que os dois são interdependentes. (…) Quando você percebe as vantagens de alguma coisa, você precisa perceber também as desvantagens e vice-versa. Quando você sentir ódio e aversão, você deve contemplar o amor e a compressão. Dessa forma, você se torna mais equilibrado e a sua mente se acalma.

Ajahn Chah

Foto: Daniel Seßler