Darryl Bailey: despertar espiritual

É possível, para aqueles que se interessam, perceber que somos um movimento da existência em si mesma. O mesmo movimento que aparece como estrelas no céu noturno ou nos voos migratórios de pássaros selvagens.

Nós agora aparecemos dessa forma, mas podemos da mesma forma aparecer como uma pitada de pó ou uma gota de umidade, e nós iremos, em algum momento; somos um acontecimento sem nenhuma forma específica.

Despertar espiritual é a abertura ao que realmente é, ao seu mistério, aparecendo como isso ou aquilo, sempre se movendo, mudando, não sendo nada em particular.

Liberdade é ser essa vitalidade indefinível, sem a tensão ou o esforço de precisar ser algo a mais do que isso. Isso não encerra as dores e dificuldades da vida; simplesmente acaba com a ilusão de que qualquer parte dela esteja sendo compreendida ou direcionada.

Darryl Bailey em Essence Revisited

Foto: Patrycja Chociej

Darryl Bailey: evento mágico

Se você se sentar e não fizer nada, a natureza básica da vida se expressa claramente. (…) Todas os grandes ensinamentos espirituais, no fim, apontam para isso, não importa o que mais eles possam oferecer. Seja isso chamado de meditação, satsang, não-fazer, consciência pura, oração silenciosa, fé, posição do cadáver, apenas sentar, descansar no momento e por aí vai, não importa. Em todos os casos, o convite é para que você não faça nenhum esforço, e a vida pode se revelar como o evento mágico que de fato é.

A crença na forma e em um fazer pessoal podem se dissolver, e o acontecimento vibrante e indefinido que tudo é se torna óbvio. Em algumas tradições, dizem que só há Deus ou Atman, mas esses são simplesmente rótulos para a vitalidade inexplicável que a vida é. Chame-a do que você quiser; isso é parte da dança.

Darryl Bailey em Essence Revisited

Foto: Greg Johnson

Darryl Bailey: decisões

Quando éramos um óvulo fertilizado no ventre, não decidimos crescer ou viajar útero abaixo. Fora do ventre, não decidimos começar a crescer, pensar, andar ou falar. Nenhum “self” direciona nada disso; apenas acontece no fluxo compulsivo da natureza.

Não criamos os nossos corpos e não criamos os nossos cérebros. Não criamos as capacidades físicas, mentais ou a falta de capacidades, nós as somos. Não criamos necessidades e interesses aparentes, ou preocupações que surgem num dado momento. Tudo isso simplesmente acontece por conta própria.

Não podemos arbitrariamente decidir ser alguma outra coisa, ser um corpo ou um cérebro diferentes, um conjunto diferentes de capacidades físicas e mentais, diferentes necessidades, interesses e preocupações. Ainda que pareça que tomemos decisões, elas crescem das necessidades, interesses e preocupações que surgem num certo momento. Não há um “self” que faz com que elas aconteçam.

A natureza apresenta situações que demandam uma decisão e a resposta a essas situações é um movimento do corpo, necessidade, interesse e capacidade que a natureza também apresenta.

Nós não temos esse corpo, necessidade, interesse e capacidade; nós somos esse corpo, necessidade, interesse e capacidade. De novo, se você se sentar e não fizer nenhum esforço, o movimento que você é se expressa bem claramente — a dança de pulsações, vibrações, pensamentos, humores, necessidades, interesses e por aí vai — mas não há nunca a experiência de alguma coisa possuindo esse movimento.

Darryl Bailey em Essence Revisited

Foto: Karina Maslina

Darryl Bailey: movimento

Queremos que a vida seja algo específico — algo agradável, algo definido, algo estável e seguro — um jeito específico de ser. Mas a existência não é nada em específico. Existe apenas um evento que muda constantemente, a ausência de qualquer forma intrínseca.

A crença numa forma constantemente se choca com o movimento da existência, e esse movimento sempre quebrará qualquer falsa impressão de estabilidade, deixando sentimentos de frustração, confusão e mágoa.

Se, entretanto, realiza-se que essa chamada “coisa”, incluindo você, é na verdade movimento, não há expectativa de estabilidade; não há nunca nenhuma forma a se segurar ou compreender. Há simplesmente uma dança mágica de aparências que sempre mudam.

Darryl Bailey, em Essence Revisited

Foto: Hulki Okan Tabak

Jiddu Krishnamurti: ganância

O que está resistindo à ganância? Essa é a primeira pergunta, não? Por que você resiste à ganância e quem é a entidade que diz: “preciso me livrar da ganância”? A entidade que diz: “preciso me livrar” também é ganância, não é? Até agora, a ganância compensou, mas agora é dolorosa; sendo assim, se diz: “preciso me livrar dela”. O motivo pra se livrar dela também é um processo de ganância, pois está se querendo ser algo que não é. Não ter ganância agora é desejável, então estou perseguindo a não-ganância; mas o motivo, a intenção, ainda é ser algo, ser não-ganancioso — o que, certamente, ainda é ganância; ainda é uma forma negativa da ênfase no ego.

Jiddu Krishnamurti em The First and Last Freedom

Foto: Tim Mossholder

Jiddu Krishnamurti: o self

O self é um problema que não pode ser resolvido pelo pensamento. É preciso que haja uma consciência para além do pensamento. Ter consciência, sem condenação ou julgamento, das atividades do self — apenas estar consciente é suficiente. Se você estiver consciente para resolver um problema, para transformá-lo, para produzir um resultado, então você ainda está no campo do self, do pequeno “eu”. Enquanto estivermos buscando um resultado, seja por análise, por atenção, por um exame constante de cada pensamento, ainda estaremos no campo do pensamento, que está dentro do campo do pequeno “eu”, do ego.

Jiddu Krishnamurti em The First and Last Freedom

Foto: Wolfgang Hasselmann

Jiddu Krishnamurti: relacionamentos

Os relacionamentos são buscados de forma e se ter segurança, onde você, como um indivíduo, pode viver num estado de segurança, de gratificação, de ignorância — e tudo isso causa conflito, não causa? Se você não me satisfaz e eu estou buscando satisfação, naturalmente haverá conflito, pois estamos ambos buscando segurança um no outro; quando essa segurança fica incerta, você se torna ciumento, violento, possessivo e por aí vai. Então, o relacionamento invariavelmente resulta em posse e reprovação, em demandas autocentradas por segurança, conforto e gratificação, e nisso, naturalmente, não há amor. Sendo assim, o relacionamento tem muito pouco significado quando estamos apenas buscando gratificação mútua, mas se torna extraordinariamente significativo quando é uma forma de autorrevelação e autoconhecimento.

Jiddu Krishnamurti em The First and Last Freedom

Foto: Elizabeth Tsung

Jiddu Krishnamurti: a distorção da linguagem

blocos com letras

Palavras alteram o nosso pensamento para infinitos caminhos de autoilusão, e o fato de que passamos a maior parte das nossas vidas mentais em mansões cerebrais feitas de palavras significa que não temos a objetividade necessária para perceber como a linguagem traz uma terrível distorção da realidade. (…) Aqueles de nós que forem realmente sérios precisam ir além da palavra, precisam buscar essa revolução fundamental dentro de si mesmos. (…) Crenças não trazem cooperação; ao contrário, elas dividem. Vemos como um partido político é contra o outro, cada um acreditando em uma certa maneira de lidar com problemas econômicos, e assim ele estão em guerra um com o outro. Eles não estão engajados, por exemplo, em resolver o problema da forma. Eles estão preocupados com a teoria que vai resolver aquele problema.

Jiddu Krishnamurti, em The First and Last Freedom

Foto: Sven Brandsma

Jiddu Krishnamurti: o desejo por segurança

Enquanto estivermos tentando atingir um resultado psicológico, enquanto quisermos nos sentir seguros, haverá uma contradição na nossa vida. Acho que a maior parte de nós não está consciente dessa contradição; ou, se estamos, não enxergamos o seu significado real. Ao contrário, a contradição nos dá um ímpeto para viver; o próprio elemento da fricção faz com que nos sintamos vivos. O esforço, a luta da contradição, nos dá um senso de vitalidade. É por isso que amamos guerras, é por isso que gostamos da batalha das frustrações. Enquanto existe o desejo de atingir um resultado, que é o desejo de estar seguro psicologicamente, haverá uma contradição; e enquanto houver essa contradição, não pode haver uma mente pacífica.

Jiddu Krishnamurti, em The First and Last Freedom

Foto: Alexander Marinescu

Jiddu Krishnamurti: meditação é a maior arte da vida

A meditação é uma das maiores artes da vida — talvez a maior de todas, e não se pode aprendê-la de ninguém, esta é a sua beleza. Ela não possui técnica e, consequentemente, não possui autoridade. Quando você aprende sobre si, se observa, observa a maneira como anda, como come, aquilo que que diz — as fofocas, o ódio, a inveja — se você reconhece tudo isso em si mesmo, sem escolhas, isso é parte da meditação.

Jiddu Krishnamurti, em Freedom from the Known

Foto: Daria Rom