William Martin: há poucas coisas que você precisa saber

Há poucas coisas que você precisa saber para se tornar um pai sábio.
Você precisa saber que vai morrer, pois assim poderá viver de verdade.

Você precisa saber quando tem o suficiente, pois assim poderá ter contentamento.
Você precisa saber como rir, pois assim encontrará cura;

Há muitas coisas que você não precisa saber.
Você não precisa saber tudo que seus filhos pensam ou fazem.
Você não precisa saber das duas esperanças e sonhos secretos. Você não precisa saber como a vida vai se desenrolará para eles, ou para você.

William Martin em The Parent’s Tao Te Ching

Foto: Rene Bernal

Barry Magid: guerra contra nós mesmos

Cada vez mais, vejo estudantes cujo objetivo secreto na prática é extirpar alguma parte indesejada de si mesmos. Algumas vezes é a sua raiva, outras vezes a sua sexualidade, sua vulnerabilidade emocional, seus corpos, ou às vezes suas próprias mentes, que são vistas como fonte do seu sofrimento. “Se ao menos eu pudesse, de uma vez por todas, me livrar de…” Tente preencher a lacuna você mesmo. Essa atitude frente à prática, se não questionada, leva os estudantes a uma anorexia espiritual (e às vezes, literal): a prática se torna uma forma arrogante de eliminar aspectos que detestamos em nós mesmos. Nosso ódio pela nossa mortalidade e imperfeições físicas alimenta uma guerra contra nossos corpos, em que tentamos transformá-los em máquinas invulneráveis que aguentam qualquer coisa, ou descartá-los como cascas irrelevantes que meramente abrigam um self interno, verdadeiro, idealizado. Entramos em guerra contra nossas próprias mentes, tentando bloquear as emoções ou pensamentos totalmente, como se pudéssemos descansar finalmente num vazio sem problemas. Queremos que a prática seja uma forma de lobotomia mental, removendo tudo que nos assusta ou envergonha, talvez removendo o próprio pensamento.

Barry Magid em Ending the Pursuit of Happiness

Foto: Christopher Campbell

Bodhidharma: nada buscar

Casa em chamas

Em terceiro, nada buscar. As pessoas desse mundo vivem iludidas. Estão sempre ansiando por algo, sempre buscando algo. Porém os sábios despertam e escolhem a sabedoria em vez dos hábitos. Concentram suas mentes no sublime e deixam seus corpos mudarem com as estações. Todos os fenômenos são vazios; não contêm nada que valha a pena desejar. A calamidade sempre se alterna com a prosperidade. Habitar nos três reinos é morar numa casa em chamas. Ter um corpo é sofrer. Alguém que possui um corpo conhece a paz? Aqueles que compreendem isso desapegam-se de todas as coisas existentes e param de imaginar ou buscar algo. Os sutras dizem: “Buscar é sofrer. Nada buscar é bendição”. Quando não se busca nada, se está no Caminho.

O ensinamento zen de Bodhidharma: meditação sobre as quatro práticas

Foto: Dave Hoefler

Jiddu Krishnamurti: sociedade baseada na inveja

A sociedade é construída de tal forma que é um processo de constante conflito, um constante vir a ser; é baseada na ganância, na inveja, inveja de seu superior. O funcionário querendo se tornar gerente, o que mostra que ele não está apenas preocupado com seu sustento, sua forma de subsistência, mas com adquirir uma posição e prestígio. Essa atitude naturalmente causa estragos na sociedade, nas relações. Se estivéssemos apenas preocupados com o nosso sustento, deveríamos encontrar as maneiras corretas de obtê-lo, maneiras que não fossem baseadas na inveja. A inveja é um dos fatores mais destrutivos de uma relação pois indica o desejo por poder, por status, o que em última instância leva à política; ambos estão intimamente ligados. O funcionário, quando busca se tornar um gerente, se torna um fator na criação de políticas de poder, que produzem guerra; então, ele tem responsabilidade direta pela guerra.

Jiddu Krishnamurti, em The First and Last Freedom

Foto: Peter Bond

Han Shan: sou um idiota

Eu penso em um tempo há vinte anos
Quando costumava caminhar tranquilamente para casa perto de Kuo-ching
E todas as pessoas do monastério de Kuo-ching diziam:
— Han Shan é um idiota
Eu sou realmente um idiota, reflito
Mas minhas reflexões não conseguem resolver uma questão:
Se eu mesmo não sei quem é o eu,
Como podem os outros saber quem eu sou?

Han Shan (Traduzido do chinês por D. T. Suzuki)

Foto: Ashim D’Silva

Thich Nhat Hanh: rótulos

Guardamos esses rótulos em pequenas pilhas na mente, de onde os tiramos para colá-los nas coisas. É o que costumamos fazer. Gostamos de poder dizer: “Este é americano. Aquela pessoa é holandesa. Esta é mexicana”. Colocamos o rótulo como se soubéssemos o que queremos dizer com mexicano, americano ou holandês. Este é comunista, esse é republicano, aquele é capitalista. Na verdade, o rótulo não tem significado algum. “Esta é uma pessoa que eu amo, essa é uma pessoa que eu odeio.” Quando colocamos um rótulo, não conseguimos ver a pessoa. Se alguém te rotula como “terrorista”, talvez atire em ti. Mas se essa pessoa vê que tu és um ser humano que tem seu próprio sofrimento, que tem mulher e filhos para cuidar, ela não será capaz de atirar em ti. Só quando colocam um rótulo em ti é que podem dizer: “Tu és um terrorista; tua presença é desnecessária neste mundo; se tu não estivesses aqui, o mundo seria mais belo”. É tudo questão de por rótulos nas pessoas. E quando tu vês o verdadeiro ser humano, não podes mais atribuir rótulos. Só damos rótulos com o intuito de elogiar ou de destruir. Temos uma taleiga repleta de rótulos — não sabemos sequer de onde eles vieram. E quando os colamos nas pessoas, o que fazemos é isolar-nos delas, e depois não podemos saber quem elas são realmente.

Thich Nhat Hanh, em Nada fazer, não ir a lugar algum

Foto: Adrian Dascal

Thich Nhat Hanh: tudo é um milagre

Eu gosto de caminhar sozinho por trilhas, com campos de arroz e mato em ambos os lados, colocando cada pé no chão com atenção plena, sabendo que eu ando na maravilhosa terra. Nesses momentos, a existência é uma realidade milagrosa e misteriosa. As pessoas costumam achar que andar sobre a água ou no ar é um milagre. Mas eu acredito que o verdadeiro milagre não é andar sobre a água ou no ar, e sim andar na terra. Todos os dias, estamos vivendo um milagre que nem mesmo reconhecemos: um céu azul, nuvens brancas, folhas verdes, os olhos negros e curiosos de uma criança — nossos próprios olhos. Tudo é um milagre.

Thich Nhat Hanh, em The Miracle of Mindfulness

Foto: Jordan Whitt

Thich Nhat Hanh: medite sobre o cadáver

O sutra budista sobre atenção plena fala da meditação sobre o cadáver: medite sobre a decomposição do corpo, como o corpo incha e fica roxo, como ele é devorado por vermes até que apenas nacos de sangue e carne continuem ligados aos ossos; medite ao ponto em que apenas os ossos permanecem, e que por sua vez vagarosamente se transformam em pó. Medite desta forma, sabendo que seu próprio corpo seguirá o mesmo processo. Medite sobre o cadáver até que você esteja calmo e em paz, até que sua mente e seu coração estejam leves e tranquilos e um sorriso surja em sua face. Desta forma, superando a repulsa e o medo, a vida será vista como infinitamente preciosa, valendo a pena viver cada segundo dela. E não é a nossa própria vida que é reconhecida como preciosa, mas as vidas de cada outra pessoa, cada outro ser, cada outra realidade.

Thich Nhat Hanh, em The Miracle of Mindfulness

Foto: Hamish Weir

Thich Nhat Hanh: lavar a louça

Enquanto se lava a louça, deve-se apenas lavar a louça, o que quer dizer que, enquanto se lava a louça, deve-se estar completamente atento ao fato de que se está lavando a louça. À primeira vista, isso pode parecer um pouco bobo: por que colocar tanta importância em algo tão simples? Mas é justamente esse o ponto. O fato de eu estar de pé lavando essas tigelas é uma realidade maravilhosa. Estou sendo eu mesmo completamente, seguindo minha respiração, consciente da minha presença e consciente de meus pensamentos e ações. Não há maneira de eu ser jogado pra lá e pra cá como uma garrafa agitada pelas ondas.

(…)

Se, enquanto lavamos a louça, pensamos apenas na xícara de chá que nos espera e consequentemente nos apressamos para nos livrarmos da louça como se ela fosse um incômodo, então não estamos lavando a louça corretamente. Pior ainda, não estamos vivos no tempo em que lavamos a louça. Na verdade, dessa forma, ficamos totalmente incapazes de nos dar conta do milagre da vida enquanto estamos na frente da pia. Se não somos capazes de lavar a louça, há a chance de que também não seremos capazes de tomar o nosso chá. Enquanto bebemos a xícara de chá, estaremos pensando em outras coisas, mal percebendo a xícara nas nossas mãos. Então, somos sugados para o futuro — sem a possibilidade de viver, de fato, um minuto da vida.

Thich Nhat Hanh, em The Miracle of Mindfulness

Foto: Matthew Tkocz