Jiddu Krishnamurti: a busca do prazer

Compreender o prazer não é negá-lo. Não estamos condenando-o ou dizendo que é certo e errado, mas sim que, se o buscamos, que seja com os olhos abertos. Sabendo que uma mente que está o tempo todo buscando o prazer inevitavelmente encontrará a sua sombra, a dor.

Então, se você puder olhar para todas as coisas sem permitir que o prazer entre — um rosto, um pássaro, a cor de um sári, a beleza de uma corrente de água brilhando ao sol, ou qualquer coisa que encante — se você conseguir olhar sem querer que a experiência se repita, então não haverá dor nem medo e, consequentemente, uma tremenda alegria.

Jiddu Krishnamurti, em Liberte-se do Passado

Foto: Amritanshu Sikdar

Jiddu Krishnamurti: nossas contradições

Você não pode depender de ninguém. Não há guia ou autoridade. Há apenas você — a sua relação com os outros e com o mundo — e nada mais.

Você tem as suas inclinações, tendências e pressões particulares que conflitam com o sistema que você acha que tem que seguir e, portanto, há uma contradição. Então, você vive uma vida dupla entre a ideologia do sistema e a realidade da sua existência diária. Ao tentar se conformar à ideologia, você suprime a si mesmo — sendo que o que é real é você e não a ideologia.

Se você não segue a ninguém, sente-se sozinho. Seja sozinho, então. Por que você tem medo de estar só? Porque você se depara com quem você é e se descobre vazio, maçante, estúpido, feio, culpado e ansioso — uma entidade de segunda mão mesquinha e tosca. Encare o fato; olhe para ele, não fuja dele. No momento em que você foge, o medo surge.

Jiddu Krishnamurti, em Freedom From the Known

Foto: Vince Fleming

Jiddu Krishnamurti: não busque

Ao longo da história teológica, líderes religiosos nos garantem que, se desempenharmos certos rituais, repetirmos certas orações ou mantras, conformarmo-nos com certos padrões, suprimirmos nossos desejos, controlarmos nossos pensamentos, sublimarmos nossas paixões, limitarmos nossos apetites e nos refrearmos de indulgência sexual, conseguiremos, após uma dose suficiente de tortura da mente e do corpo, encontrar algo além dessa pequena vida.

A primeira causa de desordem em nós mesmos é buscar a realidade prometida pelo outro; nós seguimos mecanicamente alguém que nos assegura uma vida espiritual confortável. Essa é a primeira coisa a se aprender — não buscar.

Jiddu Krishnamurti, em Freedom From the Known

Foto: Jan Huber

Ajahn Chah: fazer integralmente

Tudo que você faz precisa ser feito com clareza e atenção. Quando você vê as coisas com clareza, não há necessidade de se forçar a nada. Você tem dificuldades e se sente sobrecarregado porque não percebe! A paz vem de fazer as coisas de forma integral, com todo seu corpo e mente. Aquilo que é deixado por fazer traz um sentimento de descontentamento. Essas coisas fazem com que você se preocupe onde quer que vá. Você quer resolver tudo, mas é impossível resolver tudo. Veja o caso desses negociantes que vêm me ver regularmente. Eles dizem, “Oh, assim que eu pagar todas as minhas dívidas e estiver com minhas propriedades em ordem, virei para me tornar um monge”. Eles falam assim, mas de fato conseguirão acabar tudo e deixar tudo em ordem? Não há fim para isso. Eles pagarão suas dívidas com outro empréstimo, e quando pagarem este começarão tudo de novo. Um negociante acha que quando se libertar das dívidas será feliz, mas ele nunca acabará de pagá-las. Essa é a forma como as coisas mundanas nos enganam — ficamos dando voltas sem enxergar o que de fato causa nossas dificuldades.

Ajahn Chah

Foto: Nate Isaac

Bhikkhu Bodhi: libertar-se das amarras do desejo

Uma pessoa pode entender a necessidade da renúncia, pode querer deixar o apego para trás, mas na hora h a mente retrocede e continua a se mover em função dos seus desejos. O problema, então, é como se libertar das amarras do desejo. O Buda não oferece, como solução, o método da repressão — a tentativa de afastar o desejo com uma mente cheia de medo e repugnância. Essa abordagem não resolve o problema, apenas o empurra para baixo da superfície, onde ele continua a existir. A ferramenta que o Buda sugere para livrar a mente do apego é a compreensão. A renúncia verdadeira não se dá por nos compelirmos a abandonar as coisas que no fundo ainda desejamos, mas por mudar a perspectiva sobre elas, de forma que elas não nos prendam mais. Quando entendemos a natureza do desejo, quando a investigamos de perto com atenção, o desejo desaparece sozinho, sem a necessidade de esforço.

Bhikkhu Bodhi

Foto: Olivier Graziano

Thich Nhat Hanh: tudo é um milagre

Eu gosto de caminhar sozinho por trilhas, com campos de arroz e mato em ambos os lados, colocando cada pé no chão com atenção plena, sabendo que eu ando na maravilhosa terra. Nesses momentos, a existência é uma realidade milagrosa e misteriosa. As pessoas costumam achar que andar sobre a água ou no ar é um milagre. Mas eu acredito que o verdadeiro milagre não é andar sobre a água ou no ar, e sim andar na terra. Todos os dias, estamos vivendo um milagre que nem mesmo reconhecemos: um céu azul, nuvens brancas, folhas verdes, os olhos negros e curiosos de uma criança — nossos próprios olhos. Tudo é um milagre.

Thich Nhat Hanh, em The Miracle of Mindfulness

Foto: Jordan Whitt

Ajahn Sumedho: anatta

O nascimento significa envelhecimento, doença e morte, mas isso tem a ver com o seu corpo, que não é você. O seu corpo humano não é realmente seu. Não importa qual seja a sua aparência particular, seja você saudável ou enfermo, seja você bonito ou não, seja você negro ou branco, ou o que for. Tudo é não-self. É a isso que chamamos de anatta, que os corpos humanos pertencem à natureza, que eles seguem as leis da natureza: nascem, crescem, envelhecem e morrem.

Ajahn Sumedho

Foto: Chris Jarvis

Ajahn Sumedho: tédio

Nós nunca realmente aceitamos o tédio como um estado consciente. Assim que ele vem à mente, começamos a procurar algo interessante ou prazeroso. Mas, na meditação, permitimos que o tédio se instale. Permitimos a nós mesmos estar total e conscientemente entediados, totalmente deprimidos, de saco cheio, enciumados, irritados, enojados. Começamos a aceitar na consciência todas as experiências desagradáveis da vida, que antes reprimíamos, nunca de fato olhávamos, nunca aceitávamos — essas experiências não são vistas mais como problemas, mas de forma compassiva. A partir da bondade e da sabedoria, permitimos que as coisas tomem seu curso natural até a cessação, em vez de mantê-las girando nos antigos ciclos do hábito. Se não conseguimos deixar com que as coisas tomem seu curso natural, então estamos o tempo todo controlando, sempre pegos em algum hábito mental inconveniente. Quando estamos entediados e deprimidos, somos incapazes de apreciar a beleza das coisas, pois não conseguimos enxergá-las tais quais elas realmente são.

Ajahn Sumedho, em Now Is the Knowing

Foto: Nguyen Thu Hoai

Heródoto Barbeiro: quem dá é que deve ficar grato

O mestre Seistsu precisava de acomodações maio­res, uma vez que o prédio no qual ensinava estava su­perlotado. Umezu, um comerciante, decidiu doar 500 pe­ças de ouro para a construção de um novo edifício. Umezu levou o dinheiro ao instrutor e Seistsu lhe disse: “Está bem, eu o aceito”. Umezu deu-lhe o saco de ouro, mas ficou aborrecido com a atitude do Instrutor, pois dera uma quantia alta. Uma pessoa poderia viver o ano inteiro com três pe­ças de ouro e o Instrutor nem sequer lhe agradecera. “Neste saco há 500 peças de ouro”, insinuou Umezu. “Você já disse isso antes”, disse Seistsu. “Até mesmo para mim, que sou um rico comerciante, 500 peças de ouro é muito dinheiro”, disse Umezu. “Você quer que eu lhe agradeça por isso?”, disse Seistsu. “Deveria”, respondeu Umezu. “Por que deveria?”, perguntou Seistsu. “Quem dá é que deve ficar grato.”

Heródoto Barbeiro, em Buda: O mito e a realidade

Foto: Sharon McCutcheon

Thich Nhat Hanh: medite sobre o cadáver

O sutra budista sobre atenção plena fala da meditação sobre o cadáver: medite sobre a decomposição do corpo, como o corpo incha e fica roxo, como ele é devorado por vermes até que apenas nacos de sangue e carne continuem ligados aos ossos; medite ao ponto em que apenas os ossos permanecem, e que por sua vez vagarosamente se transformam em pó. Medite desta forma, sabendo que seu próprio corpo seguirá o mesmo processo. Medite sobre o cadáver até que você esteja calmo e em paz, até que sua mente e seu coração estejam leves e tranquilos e um sorriso surja em sua face. Desta forma, superando a repulsa e o medo, a vida será vista como infinitamente preciosa, valendo a pena viver cada segundo dela. E não é a nossa própria vida que é reconhecida como preciosa, mas as vidas de cada outra pessoa, cada outro ser, cada outra realidade.

Thich Nhat Hanh, em The Miracle of Mindfulness

Foto: Hamish Weir