Ajahn Candasiri: identificação com o eu

É difícil apreciar totalmente a não existência de um self inerente em nenhuma condição da mente e do corpo, pois temos um hábito muito forte de nos identificar com o corpo, a mente, nossas qualidades, forças, fraquezas, nosso caráter, nossa personalidade. Então, não nos sentimos prontos a deixar de lado toda essa identificação; afinal de contas, gastamos muita energia criando e mantendo nosso “eu”. Mas o Buda nos encoraja a desafiar esse senso de identidade; esse desafio se torna mais relevante e interessante quando realmente nos damos conta do sofrimento que nos causamos através dessa identificação habitual.

Ajahn Candasiri em Simple Kindness

Foto: Rishabh Dharmani

Ajahn Candasiri: características negativas

Nós somos levados a ser bem comportados e bons, e para isso aprendemos a reprimir ou ignorar nossas características negativas. Porém, quando começamos a meditar, relaxamos, e esse conteúdo começa a vir par a superfície da consciência. No budismo falando de purificar o coração – e fazemos isso permitindo que essas coisas que não são tão puras e agradáveis surjam. Então podemos deixar que elas se vão. Às vezes isso nos leva a ter muito mais energia, pois não estamos colocando tanto esforço em manter tudo sob controle.

Ajahn Candasiri em Simple Kindness

Foto: Jay Lamm

Ajahn Candasiri: abrir mão de estar certo

Estar em paz envolve abrir mão ou abandonar a posição de estar certo. É um sacrifício real do ego, do senso de eu; e por conta da forma como fomos condicionados, o senso de eu é muito importante para nós. Mesmo que esse senso seja apenas uma ilusão, fazemos todo o possível para nos segurarmos à ideia do eu até o momento em que nos damos conta de quantos problemas ela causa a nós e aos outros.

Ajahn Candasir

Foto: Masaaki Komori

Ajahn Candasiri: o preço de amar

Conforme meus pais iam envelhecendo, eu me percebia temendo o dia em que eles morreriam. Eu não sabia como as pessoas faziam para lidar com esse tipo de perda; então eu me preocupava com o momento futuro em que eles morreriam. Entretanto, dei-me conta de que talvez eu empregasse meu tempo de forma mais útil aproveitando a nossa relação enquanto eles ainda estavam vivos, em vez de pensar o tempo todo no momento da nossa inevitável separação. Assim, acabei passando um tempo proveitoso com eles. Fiz questão de falar para eles coisas que eu julgava importantes, pois eu sabia que haveria um dia em que eu não poderia falar as mesmas coisas da mesma maneira. É claro, no dia em que o momento da sua morte chegou, eu experimentei muita dor. Ainda fico triste às vezes quando penso neles, e às vezes gostaria que eles ainda estivessem aqui – mas eles estavam ficando cada vez mais velhos e era a hora certa para que eles partissem. Eu não me incomodei com a dor; não sofri com ela. Havia apenas dor, e percebi que a dor era a consequência inevitável de amar alguém. É quase como, ao amar alguém, houvesse uma etiqueta com o preço presa a isso. Mas foi um preço que eu paguei de bom grado. Não era muito.

Ajahn Candasiri, em Simple Kindness

Foto: Priscilla Du Preez