Barry Magid: guerra contra nós mesmos

Cada vez mais, vejo estudantes cujo objetivo secreto na prática é extirpar alguma parte indesejada de si mesmos. Algumas vezes é a sua raiva, outras vezes a sua sexualidade, sua vulnerabilidade emocional, seus corpos, ou às vezes suas próprias mentes, que são vistas como fonte do seu sofrimento. “Se ao menos eu pudesse, de uma vez por todas, me livrar de…” Tente preencher a lacuna você mesmo. Essa atitude frente à prática, se não questionada, leva os estudantes a uma anorexia espiritual (e às vezes, literal): a prática se torna uma forma arrogante de eliminar aspectos que detestamos em nós mesmos. Nosso ódio pela nossa mortalidade e imperfeições físicas alimenta uma guerra contra nossos corpos, em que tentamos transformá-los em máquinas invulneráveis que aguentam qualquer coisa, ou descartá-los como cascas irrelevantes que meramente abrigam um self interno, verdadeiro, idealizado. Entramos em guerra contra nossas próprias mentes, tentando bloquear as emoções ou pensamentos totalmente, como se pudéssemos descansar finalmente num vazio sem problemas. Queremos que a prática seja uma forma de lobotomia mental, removendo tudo que nos assusta ou envergonha, talvez removendo o próprio pensamento.

Barry Magid em Ending the Pursuit of Happiness

Foto: Christopher Campbell