Han Shan: sou um idiota

Eu penso em um tempo há vinte anos
Quando costumava caminhar tranquilamente para casa perto de Kuo-ching
E todas as pessoas do monastério de Kuo-ching diziam:
— Han Shan é um idiota
Eu sou realmente um idiota, reflito
Mas minhas reflexões não conseguem resolver uma questão:
Se eu mesmo não sei quem é o eu,
Como podem os outros saber quem eu sou?

Han Shan (Traduzido do chinês por D. T. Suzuki)

Foto: Ashim D’Silva

D. T. Suzuki: Dharma sem forma

O Dharma não tem tamanho, nem forma, nem altitude. Para dar um exemplo: aqui está uma grande pedra no pátio que pertence à sua casa. Você se senta nela, dorme em cima dela, sem medo algum. Um belo dia, de repente, você tem a ideia de pintar nela uma figura. Você chama um artista e manda pintar ali uma figura de Buda e acha que ela é o Buda. Você não ousa mais dormir em cima dela, tem medo de profanar a imagem que a princípio não passava de uma pedra. É devido à mudança ocorrida na sua mente que você já não dorme em cima dela. E o que é também, isso que chamam de mente? É o seu próprio pincel saído da sua imaginação que transforma uma pedra numa figura de Buda. O sentimento de medo é uma criação sua. A pedra, em si mesma, é destituída de mérito e demérito.

D. T. Suzuki: A Doutrina Zen da Não-Mente

Foto: Huy Hóng Hớt

D. T. Suzuki: onde está o Tao?

Perguntou um monge a Wei-Kuan, de Hsing-shan Ssu: – Onde está o Tao?
Kuan: – Bem na nossa frente.
Monge: – Por que eu não o vejo?
Kuan: – Você não o vê por causa do seu egoísmo.
Monge: – Se eu não posso ver por causa do meu egoísmo, será que o senhor pode vê-lo?
Kuan: – Enquanto houver “eu” e “tu”, a situação se complica e não há visão do Tao.
Monge: – Quando não há nem “eu” nem “tu”, existe a visão do Tao?
Kuan: – Quando não há nem “eu” nem “tu”, quem está aqui para vê-lo? 

D. T. Suzuki: A Doutrina Zen da Não-Mente

Foto: Faye Cornish