
Quando éramos um óvulo fertilizado no ventre, não decidimos crescer ou viajar útero abaixo. Fora do ventre, não decidimos começar a crescer, pensar, andar ou falar. Nenhum “self” direciona nada disso; apenas acontece no fluxo compulsivo da natureza.
Não criamos os nossos corpos e não criamos os nossos cérebros. Não criamos as capacidades físicas, mentais ou a falta de capacidades, nós as somos. Não criamos necessidades e interesses aparentes, ou preocupações que surgem num dado momento. Tudo isso simplesmente acontece por conta própria.
Não podemos arbitrariamente decidir ser alguma outra coisa, ser um corpo ou um cérebro diferentes, um conjunto diferentes de capacidades físicas e mentais, diferentes necessidades, interesses e preocupações. Ainda que pareça que tomemos decisões, elas crescem das necessidades, interesses e preocupações que surgem num certo momento. Não há um “self” que faz com que elas aconteçam.
A natureza apresenta situações que demandam uma decisão e a resposta a essas situações é um movimento do corpo, necessidade, interesse e capacidade que a natureza também apresenta.
Nós não temos esse corpo, necessidade, interesse e capacidade; nós somos esse corpo, necessidade, interesse e capacidade. De novo, se você se sentar e não fizer nenhum esforço, o movimento que você é se expressa bem claramente — a dança de pulsações, vibrações, pensamentos, humores, necessidades, interesses e por aí vai — mas não há nunca a experiência de alguma coisa possuindo esse movimento.
Darryl Bailey em Essence Revisited
Foto: Karina Maslina