Jiddu Krishnamurti: ganância

O que está resistindo à ganância? Essa é a primeira pergunta, não? Por que você resiste à ganância e quem é a entidade que diz: “preciso me livrar da ganância”? A entidade que diz: “preciso me livrar” também é ganância, não é? Até agora, a ganância compensou, mas agora é dolorosa; sendo assim, se diz: “preciso me livrar dela”. O motivo pra se livrar dela também é um processo de ganância, pois está se querendo ser algo que não é. Não ter ganância agora é desejável, então estou perseguindo a não-ganância; mas o motivo, a intenção, ainda é ser algo, ser não-ganancioso — o que, certamente, ainda é ganância; ainda é uma forma negativa da ênfase no ego.

Jiddu Krishnamurti em The First and Last Freedom

Foto: Tim Mossholder

Jiddu Krishnamurti: o self

O self é um problema que não pode ser resolvido pelo pensamento. É preciso que haja uma consciência para além do pensamento. Ter consciência, sem condenação ou julgamento, das atividades do self — apenas estar consciente é suficiente. Se você estiver consciente para resolver um problema, para transformá-lo, para produzir um resultado, então você ainda está no campo do self, do pequeno “eu”. Enquanto estivermos buscando um resultado, seja por análise, por atenção, por um exame constante de cada pensamento, ainda estaremos no campo do pensamento, que está dentro do campo do pequeno “eu”, do ego.

Jiddu Krishnamurti em The First and Last Freedom

Foto: Wolfgang Hasselmann

Jiddu Krishnamurti: relacionamentos

Os relacionamentos são buscados de forma e se ter segurança, onde você, como um indivíduo, pode viver num estado de segurança, de gratificação, de ignorância — e tudo isso causa conflito, não causa? Se você não me satisfaz e eu estou buscando satisfação, naturalmente haverá conflito, pois estamos ambos buscando segurança um no outro; quando essa segurança fica incerta, você se torna ciumento, violento, possessivo e por aí vai. Então, o relacionamento invariavelmente resulta em posse e reprovação, em demandas autocentradas por segurança, conforto e gratificação, e nisso, naturalmente, não há amor. Sendo assim, o relacionamento tem muito pouco significado quando estamos apenas buscando gratificação mútua, mas se torna extraordinariamente significativo quando é uma forma de autorrevelação e autoconhecimento.

Jiddu Krishnamurti em The First and Last Freedom

Foto: Elizabeth Tsung

Jiddu Krishnamurti: a distorção da linguagem

blocos com letras

Palavras alteram o nosso pensamento para infinitos caminhos de autoilusão, e o fato de que passamos a maior parte das nossas vidas mentais em mansões cerebrais feitas de palavras significa que não temos a objetividade necessária para perceber como a linguagem traz uma terrível distorção da realidade. (…) Aqueles de nós que forem realmente sérios precisam ir além da palavra, precisam buscar essa revolução fundamental dentro de si mesmos. (…) Crenças não trazem cooperação; ao contrário, elas dividem. Vemos como um partido político é contra o outro, cada um acreditando em uma certa maneira de lidar com problemas econômicos, e assim ele estão em guerra um com o outro. Eles não estão engajados, por exemplo, em resolver o problema da forma. Eles estão preocupados com a teoria que vai resolver aquele problema.

Jiddu Krishnamurti, em The First and Last Freedom

Foto: Sven Brandsma

Jiddu Krishnamurti: o desejo por segurança

Enquanto estivermos tentando atingir um resultado psicológico, enquanto quisermos nos sentir seguros, haverá uma contradição na nossa vida. Acho que a maior parte de nós não está consciente dessa contradição; ou, se estamos, não enxergamos o seu significado real. Ao contrário, a contradição nos dá um ímpeto para viver; o próprio elemento da fricção faz com que nos sintamos vivos. O esforço, a luta da contradição, nos dá um senso de vitalidade. É por isso que amamos guerras, é por isso que gostamos da batalha das frustrações. Enquanto existe o desejo de atingir um resultado, que é o desejo de estar seguro psicologicamente, haverá uma contradição; e enquanto houver essa contradição, não pode haver uma mente pacífica.

Jiddu Krishnamurti, em The First and Last Freedom

Foto: Alexander Marinescu

Jiddu Krishnamurti: sociedade baseada na inveja

A sociedade é construída de tal forma que é um processo de constante conflito, um constante vir a ser; é baseada na ganância, na inveja, inveja de seu superior. O funcionário querendo se tornar gerente, o que mostra que ele não está apenas preocupado com seu sustento, sua forma de subsistência, mas com adquirir uma posição e prestígio. Essa atitude naturalmente causa estragos na sociedade, nas relações. Se estivéssemos apenas preocupados com o nosso sustento, deveríamos encontrar as maneiras corretas de obtê-lo, maneiras que não fossem baseadas na inveja. A inveja é um dos fatores mais destrutivos de uma relação pois indica o desejo por poder, por status, o que em última instância leva à política; ambos estão intimamente ligados. O funcionário, quando busca se tornar um gerente, se torna um fator na criação de políticas de poder, que produzem guerra; então, ele tem responsabilidade direta pela guerra.

Jiddu Krishnamurti, em The First and Last Freedom

Foto: Peter Bond

Jiddu Krishnamurti: meditação é a maior arte da vida

A meditação é uma das maiores artes da vida — talvez a maior de todas, e não se pode aprendê-la de ninguém, esta é a sua beleza. Ela não possui técnica e, consequentemente, não possui autoridade. Quando você aprende sobre si, se observa, observa a maneira como anda, como come, aquilo que que diz — as fofocas, o ódio, a inveja — se você reconhece tudo isso em si mesmo, sem escolhas, isso é parte da meditação.

Jiddu Krishnamurti, em Freedom from the Known

Foto: Daria Rom

Jiddu Krishnamurti: relação verdadeira

Duas pessoas que vivem juntas há muito tempo têm uma imagem uma da outra que as impede de realmente estar no relacionamento. Se entendermos o relacionamento, podemos co-operar, mas co-operação não pode existir através de imagens, símbolos e conceitos ideológicos. Apenas quando entendemos a relação verdadeira entre cada um existe a possibilidade de amor, e o amor é negado quando se tem imagens.

Jiddu Krishnamurt, em Liberte-se do Passado

Foto: Charlie Foster

Jiddu Krishnamurti: a busca do prazer

Compreender o prazer não é negá-lo. Não estamos condenando-o ou dizendo que é certo e errado, mas sim que, se o buscamos, que seja com os olhos abertos. Sabendo que uma mente que está o tempo todo buscando o prazer inevitavelmente encontrará a sua sombra, a dor.

Então, se você puder olhar para todas as coisas sem permitir que o prazer entre — um rosto, um pássaro, a cor de um sári, a beleza de uma corrente de água brilhando ao sol, ou qualquer coisa que encante — se você conseguir olhar sem querer que a experiência se repita, então não haverá dor nem medo e, consequentemente, uma tremenda alegria.

Jiddu Krishnamurti, em Liberte-se do Passado

Foto: Amritanshu Sikdar

Jiddu Krishnamurti: nossas contradições

Você não pode depender de ninguém. Não há guia ou autoridade. Há apenas você — a sua relação com os outros e com o mundo — e nada mais.

Você tem as suas inclinações, tendências e pressões particulares que conflitam com o sistema que você acha que tem que seguir e, portanto, há uma contradição. Então, você vive uma vida dupla entre a ideologia do sistema e a realidade da sua existência diária. Ao tentar se conformar à ideologia, você suprime a si mesmo — sendo que o que é real é você e não a ideologia.

Se você não segue a ninguém, sente-se sozinho. Seja sozinho, então. Por que você tem medo de estar só? Porque você se depara com quem você é e se descobre vazio, maçante, estúpido, feio, culpado e ansioso — uma entidade de segunda mão mesquinha e tosca. Encare o fato; olhe para ele, não fuja dele. No momento em que você foge, o medo surge.

Jiddu Krishnamurti, em Freedom From the Known

Foto: Vince Fleming