Joan Tollifson: não há escolha

Até mesmo a ação mais aparentemente consciente, voluntária, intencional, bem pensada, aparentemente livremente escolhida e iniciada pelo eu, quando começamos a olhar de perto para tudo que estava envolvido para fazê-la acontecer, acaba sendo o resultado de causas e condições infinitas, de uma folha caindo trinta anos atrás em New Jersey até o Big Bang. Quando prestamos uma cuidadosa atenção a cada ação conforme ela se desenvolve, não conseguimos encontrar um “eu” separado iniciando-a ou a levando a cabo em nenhum dos seus estágios. Ninguém “escolhe” ser um serial killer ou ter transtorno de personalidade narcisista. O Buda não teve escolha sobre ser o Buda, assim como Hitler não teve escolha sobre ser Hitler. O viciado em drogas que se recupera não tem escolha sobre se recuperar, assim como o que não se recupera não tem escolha sobre não se recuperar. Nada poderia ser diferente do que é nesse momento. É o acontecimento indivisível que inclui o Buda e Hitler, recuperar-se e não recuperar-se, tudo num evento inseparável, um oceano sem divisões.

Joan Tollifson, em Nothing to Grasp

Foto: Colton Duke