Ramesh Balsekar: os problemas humanos

Se analisarmos um problema, certamente perceberemos que ele é criado pelo pensamento. Pensar que algo é um problema cria o problema, e a base para quase todos os problemas é a relação entre “eu” e o “outro”; o problema é criado porque o “eu” pensa que o outro fez algo contra o interesse do “eu”. Em outras palavras, é um fato real da vida que quase qualquer problema é baseado no “eu” considerar o outro um rival em potencial, um inimigo em potencial. Esse é o núcleo dos problemas humanos.

A total apercepção desse fato torna claro que a única forma de lidar com problemas humanos não é achar uma solução para o problema, mas ver claramente que não há necessidade de ter nenhum problema. E a forma para que isso aconteça é aceitar o conceito claramente estabelecido pelo grande Buda: “Eventos acontecem, ações são realizadas, consequências acontecem; mas não há nenhum autor individual de nenhum feito”.

Ramesh Balsekar em A Personal Religion of Your Own

Foto: Janosch Diggelmann

Ramesh Balsekar: orgulho e culpa

Acreditando ou não que eu sou o que faz, cabe a mim aproveitar o prazer ou sofrer a dor. É a a mesma coisa para qualquer pessoa. Então, o que é a grande coisa que eu preciso aceitar sobre isso que me traz a paz de espírito?

É simples. O que acontece é que eu certamente aproveito o prazer, mas sabendo que não é minha ação, não há orgulho ou arrogância. Não é meu feito. Prazer, mas sem orgulho ou arrogância.

Da mesma forma, preciso aceitar a dor, sabendo que não é minha ação; quando eu sofro da dor, não preciso me sentir culpado. Prazer, mas não orgulho. Dor, mas não culpa.

Ramesh Balsekar em A Personal Religion of Your Own

Foto: Ivanna Vinnicsuk

Ramesh Balsekar: todas as ações são acontecimentos

É extremamente importante lembrar que o-que-somos enquanto Númeno é ser infinito e imperceptível; o-que-aparentamos-ser, como fenômenos, são objetos temporalmente finitos e separados perceptualmente. Nunca podemos esquecer, em outras palavras, e que nós, como entidades separados, somos uma ilusão, esperando absurdamente por nos transformarmos em “seres iluminados”. Como pode um fenômeno, uma mera aparência, aperfeiçoar a si mesmo?

Falando como “Eu” (subjetividade não manifesta númena), cada um pode dizer ao nosso self fenomenal, o “eu”: “Fique parado e saiba que Eu sou Deus”. É só quando o self fenomenal — “eu” — está ausente (sem nenhum pensamento, sem nenhuma conceitualização), é que o “Eu” numenal pode estar presente, pois eles não são dois.

Um objeto fenomenal baseado no self não pode encontrar o Númeno que é verdadeiro, do mesmo jeito que é impossível para a sombra encontrar sua substância. Um rio não pode encontrar o oceano; pode apenas se tornar o oceano. Da mesma forma, a ausência absoluta de todos os conceitos significa o abandono da própria busca, e isso resulta na aniquilação do buscador no existir.

Foi aí que fiquei travado por algum tempo. Então a resposta veio para mim, de novo pela graça de Deus, de que eu posso ter paz de espírito apenas, apenas se eu puder aceitar totalmente esse conceito, de que tudo que acontece no mundo é um acontecimento… de acordo com a Vontade de Deus / Lei Cósmica. Seja qual a pessoa ou organismo mente-corpo que a ação acontece… de novo está de acordo com a Lei Cósmica.

Qualquer ação acontecendo em qualquer organismo mente-corpo, como ela afeta a outros, para o bem ou para o mal, seja uma ação que machuca ou ajuda uma pessoa, não está no controle de ninguém. Está de acordo com a Vontade de Deus / Lei Cósmica e o destino da pessoa envolvida.

Em outras palavras, ninguém, nenhum ser humano, é capaz de fazer nada. Tudo acontece, de acordo com a Vontade de Deus / Lei Cósmica.

Ramesh Balsekar em A Personal Religion of Your Own

Foto: Maria Budanova