Guardamos esses rótulos em pequenas pilhas na mente, de onde os tiramos para colá-los nas coisas. É o que costumamos fazer. Gostamos de poder dizer: “Este é americano. Aquela pessoa é holandesa. Esta é mexicana”. Colocamos o rótulo como se soubéssemos o que queremos dizer com mexicano, americano ou holandês. Este é comunista, esse é republicano, aquele é capitalista. Na verdade, o rótulo não tem significado algum. “Esta é uma pessoa que eu amo, essa é uma pessoa que eu odeio.” Quando colocamos um rótulo, não conseguimos ver a pessoa. Se alguém te rotula como “terrorista”, talvez atire em ti. Mas se essa pessoa vê que tu és um ser humano que tem seu próprio sofrimento, que tem mulher e filhos para cuidar, ela não será capaz de atirar em ti. Só quando colocam um rótulo em ti é que podem dizer: “Tu és um terrorista; tua presença é desnecessária neste mundo; se tu não estivesses aqui, o mundo seria mais belo”. É tudo questão de por rótulos nas pessoas. E quando tu vês o verdadeiro ser humano, não podes mais atribuir rótulos. Só damos rótulos com o intuito de elogiar ou de destruir. Temos uma taleiga repleta de rótulos — não sabemos sequer de onde eles vieram. E quando os colamos nas pessoas, o que fazemos é isolar-nos delas, e depois não podemos saber quem elas são realmente.
Thich Nhat Hanh, em Nada fazer, não ir a lugar algum
Foto: Adrian Dascal