Thich Nhat Hanh: rótulos

Guardamos esses rótulos em pequenas pilhas na mente, de onde os tiramos para colá-los nas coisas. É o que costumamos fazer. Gostamos de poder dizer: “Este é americano. Aquela pessoa é holandesa. Esta é mexicana”. Colocamos o rótulo como se soubéssemos o que queremos dizer com mexicano, americano ou holandês. Este é comunista, esse é republicano, aquele é capitalista. Na verdade, o rótulo não tem significado algum. “Esta é uma pessoa que eu amo, essa é uma pessoa que eu odeio.” Quando colocamos um rótulo, não conseguimos ver a pessoa. Se alguém te rotula como “terrorista”, talvez atire em ti. Mas se essa pessoa vê que tu és um ser humano que tem seu próprio sofrimento, que tem mulher e filhos para cuidar, ela não será capaz de atirar em ti. Só quando colocam um rótulo em ti é que podem dizer: “Tu és um terrorista; tua presença é desnecessária neste mundo; se tu não estivesses aqui, o mundo seria mais belo”. É tudo questão de por rótulos nas pessoas. E quando tu vês o verdadeiro ser humano, não podes mais atribuir rótulos. Só damos rótulos com o intuito de elogiar ou de destruir. Temos uma taleiga repleta de rótulos — não sabemos sequer de onde eles vieram. E quando os colamos nas pessoas, o que fazemos é isolar-nos delas, e depois não podemos saber quem elas são realmente.

Thich Nhat Hanh, em Nada fazer, não ir a lugar algum

Foto: Adrian Dascal

Thich Nhat Hanh: tudo é um milagre

Eu gosto de caminhar sozinho por trilhas, com campos de arroz e mato em ambos os lados, colocando cada pé no chão com atenção plena, sabendo que eu ando na maravilhosa terra. Nesses momentos, a existência é uma realidade milagrosa e misteriosa. As pessoas costumam achar que andar sobre a água ou no ar é um milagre. Mas eu acredito que o verdadeiro milagre não é andar sobre a água ou no ar, e sim andar na terra. Todos os dias, estamos vivendo um milagre que nem mesmo reconhecemos: um céu azul, nuvens brancas, folhas verdes, os olhos negros e curiosos de uma criança — nossos próprios olhos. Tudo é um milagre.

Thich Nhat Hanh, em The Miracle of Mindfulness

Foto: Jordan Whitt

Thich Nhat Hanh: medite sobre o cadáver

O sutra budista sobre atenção plena fala da meditação sobre o cadáver: medite sobre a decomposição do corpo, como o corpo incha e fica roxo, como ele é devorado por vermes até que apenas nacos de sangue e carne continuem ligados aos ossos; medite ao ponto em que apenas os ossos permanecem, e que por sua vez vagarosamente se transformam em pó. Medite desta forma, sabendo que seu próprio corpo seguirá o mesmo processo. Medite sobre o cadáver até que você esteja calmo e em paz, até que sua mente e seu coração estejam leves e tranquilos e um sorriso surja em sua face. Desta forma, superando a repulsa e o medo, a vida será vista como infinitamente preciosa, valendo a pena viver cada segundo dela. E não é a nossa própria vida que é reconhecida como preciosa, mas as vidas de cada outra pessoa, cada outro ser, cada outra realidade.

Thich Nhat Hanh, em The Miracle of Mindfulness

Foto: Hamish Weir

Thich Nhat Hanh: lavar a louça

Enquanto se lava a louça, deve-se apenas lavar a louça, o que quer dizer que, enquanto se lava a louça, deve-se estar completamente atento ao fato de que se está lavando a louça. À primeira vista, isso pode parecer um pouco bobo: por que colocar tanta importância em algo tão simples? Mas é justamente esse o ponto. O fato de eu estar de pé lavando essas tigelas é uma realidade maravilhosa. Estou sendo eu mesmo completamente, seguindo minha respiração, consciente da minha presença e consciente de meus pensamentos e ações. Não há maneira de eu ser jogado pra lá e pra cá como uma garrafa agitada pelas ondas.

(…)

Se, enquanto lavamos a louça, pensamos apenas na xícara de chá que nos espera e consequentemente nos apressamos para nos livrarmos da louça como se ela fosse um incômodo, então não estamos lavando a louça corretamente. Pior ainda, não estamos vivos no tempo em que lavamos a louça. Na verdade, dessa forma, ficamos totalmente incapazes de nos dar conta do milagre da vida enquanto estamos na frente da pia. Se não somos capazes de lavar a louça, há a chance de que também não seremos capazes de tomar o nosso chá. Enquanto bebemos a xícara de chá, estaremos pensando em outras coisas, mal percebendo a xícara nas nossas mãos. Então, somos sugados para o futuro — sem a possibilidade de viver, de fato, um minuto da vida.

Thich Nhat Hanh, em The Miracle of Mindfulness

Foto: Matthew Tkocz

Thich Nhat Hanh: Respiração consciente

A respiração consciente nos ajuda a parar de nos preocupar com as tristezas do passado e as ansiedades do futuro. Ajuda-nos a entrar em contato com a vida no momento presente. (..) Às vezes parece que há um gravador dentro de nossa cabeça – ligado dia e noite – e não conseguimos desligá-lo. Ficamos preocupados, tensos e temos pesadelos. Quando praticamos a atenção plena, começamos a ouvir realmente pela primeira vez a fita que está no gravador de nossa mente, e então percebemos quais os pensamentos úteis e quais os inúteis.

Thich Nhat Hanh: A Essência dos Ensinamentos de Buda

Foto: Wes Grant