Ajahn Chah: não olhe para os outros

Não faça comparações. Não discrimine. Abandone suas opiniões, observe suas opiniões e observe a si mesmo. Este é o nosso darma. Você não pode fazer com que todo mundo aja de acordo com o que você espera ou que seja como você. Essa expectativa só lhe fará sofrer. É um erro comum cometido pelos meditantes, mas observar os outros não traz sabedoria. Apenas examine a si mesmo e aos seus sentimentos. Desta forma você chegará à compreensão.

Ajahn Chah

Foto: Timon Studler

D. T. Suzuki: Dharma sem forma

O Dharma não tem tamanho, nem forma, nem altitude. Para dar um exemplo: aqui está uma grande pedra no pátio que pertence à sua casa. Você se senta nela, dorme em cima dela, sem medo algum. Um belo dia, de repente, você tem a ideia de pintar nela uma figura. Você chama um artista e manda pintar ali uma figura de Buda e acha que ela é o Buda. Você não ousa mais dormir em cima dela, tem medo de profanar a imagem que a princípio não passava de uma pedra. É devido à mudança ocorrida na sua mente que você já não dorme em cima dela. E o que é também, isso que chamam de mente? É o seu próprio pincel saído da sua imaginação que transforma uma pedra numa figura de Buda. O sentimento de medo é uma criação sua. A pedra, em si mesma, é destituída de mérito e demérito.

D. T. Suzuki: A Doutrina Zen da Não-Mente

Foto: Huy Hóng Hớt

Ajahn Chah: a insubstancialidade e impermanência da mente

Nossa mente está sempre mudando. Ela não é um self ou uma substância. Não é, de fato “eu”, não há, de fato, “eles”, embora se possa pensar assim. Talvez a mente pense em se matar. Talvez pense em felicidade ou em sofrimento – todos os tipos de coisas! Ela é instável. Se não tivermos uma sabedoria sólida e formos enganados pela nossa mente, ela nos mentirá continuamente. E alternadamente sofreremos e ficaremos felizes.  A mente é incerta. Este corpo é incerto. Juntos, são impermanentes. Juntos, são uma fonte de sofrimento. Juntos, são desprovidos de um self. Estes, o Buda apontou, não são um ser, nem uma pessoa, nem um self, nem uma alma, nem nós, nem eles. São apenas elementos.  Quando a mente vê isso, ela se livrará do apego que sustenta que “eu” sou belo, “eu” sou bom, “eu” estou sofrendo, “eu” tenho, “eu” isso e “eu” aquilo. Você experimentará um estado de unidade, pois verá que toda a humanidade é basicamente a mesma. Não há “eu”, há apenas elementos.

Ajahn Chah

Foto: Piotr Skrzyński

D. T. Suzuki: onde está o Tao?

Perguntou um monge a Wei-Kuan, de Hsing-shan Ssu: – Onde está o Tao?
Kuan: – Bem na nossa frente.
Monge: – Por que eu não o vejo?
Kuan: – Você não o vê por causa do seu egoísmo.
Monge: – Se eu não posso ver por causa do meu egoísmo, será que o senhor pode vê-lo?
Kuan: – Enquanto houver “eu” e “tu”, a situação se complica e não há visão do Tao.
Monge: – Quando não há nem “eu” nem “tu”, existe a visão do Tao?
Kuan: – Quando não há nem “eu” nem “tu”, quem está aqui para vê-lo? 

D. T. Suzuki: A Doutrina Zen da Não-Mente

Foto: Faye Cornish

Dalai Lama: sofrimento é parte natural da existência

Se o nosso enfoque básico é o de que o sofrimento é negativo, precisa ser evitado a todo custo e, em certo sentido, é um sinal de fracasso, essa postura acrescentará um nítido componente psicológico de ansiedade e intolerância quando enfrentarmos circunstâncias difíceis, uma sensação de estar arrasado. Por outro lado, se nosso enfoque básico aceitar que o sofrimento é uma parte natural da existência, isso indubitavelmente nos tornará mais tolerantes diante das adversidades da vida.

Dalai Lama

Foto: Zetong Li

Ringu Tulku Rinpoche: aceitação das emoções negativas

Seguindo os ensinamentos Vajrayana, não abandonamos nem rejeitamos nada; em vez disso, utilizamos o que quer que apareça. Olhamos nossas emoções negativas e as aceitamos pelo que são. Então relaxamos nesse estado de aceitação. Usando a própria aflição, ela é transformada e transmutada em algo positivo, em sua verdadeira face.  Quando, por exemplo, surge raiva ou desejo intensos, um praticante Vajrayana não tem medo. No lugar disso, ele ou ela seguiriam as instruções que dizem o seguinte: tenha a coragem de se expor às suas emoções. Não rejeite nem suprima, mas também não as siga. Apenas olhe para sua emoção, olho no olho, e tente relaxar dentro da própria emoção.  Não há confronto envolvido. Você não faz nada. Permanecendo desapegado, você nem é carregado pelo emoção nem a rejeita como algo negativo. Então, você pode olhar para suas aflições quase casualmente e até se divertir com isso.  Quando se vai nosso hábito de magnificar nossos sentimentos e a fascinação resultante disso, não haverá nenhuma negatividade e nenhum combustível. Podemos relaxar dentro disso. O que estamos tentando fazer, portanto, é lidar de modo hábil e sutil com nossas emoções. Isso em grande parte equivale à habilidade de exercer a disciplina.

Ringu Tulku Rinpoche
Daring Steps: Traversing the Path of the Buddha

Foto: John Mark Arnold

Ajahn Sumedho: esforço correto

Com o Esforço Correto, pode haver uma aceitação calma a uma situação, em vez do pânico causado por pensar que cabe a mim fazer com que tudo fique certo, corrigir tudo e resolver os problemas de todo mundo. Fazemos o melhor que podemos, mas também nos damos conta de que não cabe a nós fazer tudo e corrigir tudo. (…) Algumas situações na nossa vida são simplesmente como são. Não há nada que se possa fazer, então permitimos que elas sejam como são; ainda que elas piorem, deixamos que piorem. Isso não é fatalista ou negativo; é uma espécie de paciência – estar disposto a suportar algo; permitindo que a mudança natural ocorra em vez de tentar egoisticamente consertar ou arrumar tudo a partir da nossa aversão pela desorganização.

Ajahn Sumedho

Foto: Nadiia Ploshchenko

Stephen Batchelor: meditação da respiração

A meditação da respiração torna você intimamente consciente do ritmo primitivo da sua existência física. (…) Tendo encontrado uma postura estável em que suas costas estejam eretas, direcione toda a sua atenção para a sensação física da respiração conforme ela entra pelas narinas, preenche os pulmões, é pausada, contrai os pulmões, é expelida, pausada novamente e assim por diante. Não controle a respiração; apenas permaneça com uma curiosidade tranquila na consciência do corpo respirando. Se a respiração é curta e superficial, perceba-a como curta e superficial. Se é longa e profunda, perceba-a como longa e profunda. Não há um jeito certo ou errado de respirar.

Stephen Batchelor

Foto: RKTKN